Conhecer o Geyser del Tatio é um dos tours imperdíveis no Deserto do Atacama? O passeio é o terceiro melhor avaliado entre as opções do que fazer no Atacama, segundo o público do TripAdvisor. Mas como se preparar para o passeio com menor temperatura do Atacama?
Confesso que eu estava um pouco desconfiado. Acordar à 5h da manhã, subir até uma altitude de mais de 4.300 metros e pegar uma temperatura abaixo de zero não é o programa ideal que a gente pensa para as nossas férias. Imagine ainda fazer um trekking nessa altitude.
A ideia de ver um pouco de água borbulhando e alguma fumaça saindo dela também não me pareciam assim tão imperdíveis. Mas quer saber? Depois de termos ido ao Geyser del Tatio, eu revi todos esses conceitos.
E o lugar é realmente um dos melhores passeios do Atacama, especialmente para quem nunca viu geysers na vida. Mas fica a dica: a dobradinha ideal é fazer também o Trekking Copacoya. Confira a seguir como funciona esse passeio.
Geyser del Tatio + Trekking Copacoya: Como se Preparar para a Menor Temperatura no Atacama
Saiba como funciona e como se preparar para subir a uma altitude de 4.300 metros para ver os Geysers do Atacama
Não sou muito fã de frio. E às vezes já sofro com os dias mais frios que fazem aqui em São Paulo. Por isso, fiquei ressabiado com o tour até o Geyser del Tatio, um campo geotérmico que fica a 4.300 metros de altitude (4.321 metros, para ser mais preciso). Para aproveitar melhor o passeio, é preciso chegar bem cedo, antes do sol nascer.
Acordar de madrugada e ainda pegar um frio do cão (temperaturas negativas na certa) não parece o programa ideal para se fazer nas férias. Por isso, ainda que a gente estivesse decidido a fazer esse tour, as expectativas estavam altas.
Para acrescentar um pouco mais o grau de dificuldade, incluímos também um trekking na região.
Em torno do Geyser del Tatio fica o Cerro Copacoya, um percurso de cerca de 15 km que permite visualizar algumas paisagens incríveis entre as montanhas da Cordilheira dos Andes. Afinal o negócio tem que ser cinematográfico.
Mas como o trekking de altitude não era bem nossa especialidade, um dia antes nós tínhamos marcado uma reunião com nossa guia de montanha, Carla, no escritório da FlaviaBia Expediciones.
Carla queria saber um pouco mais sobre nosso condicionamento físico e sobre o tipo de equipamentos de caminhada que possuíamos. Apesar de adorarmos trilhas, a gente está mais próximo de uma categoria amadora de caminhantes.
Será que a gente daria conta?
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Parte 1: Geyser del Tatio
Acordamos às 5h da manhã, e nos preparamos para o frio intenso do Geyser del Tatio.
No nosso caso, ainda tínhamos que pensar no trekking que faríamos na sequência. Para evitar uma mudança brusca de temperatura, nossa guia Carla recomendou que usássemos o máximo de agasalhos possível.
Que roupa usar?
- Usamos várias camadas de roupa, todas as que levamos. Nas pernas, três camadas: uma calça segunda pele, uma calça normal e mais uma terceira calça de trilha por cima. Para o tronco e braços, foram cinco camadas de roupa: uma camisa segunda pele, uma camisa de manga comprida, dois casacos fleece e uma jaqueta corta-vento. Será que foi demais? Achei melhor prevenir do que remediar.
- O kit temperaturas negativas extremas ainda incluiu luvas térmicas (compramos umas especiais na Decathlon), gorro térmico, dois pares de meias no pé (um dos pares era de meias térmicas, caso não encontre leve a mais grossa que tiver) e um cachecol. Pronto.
- Não esqueça de passar um protetor labial. A própria FlaviaBia fornece um kit básico que inclui uma garrafa e o protetor.
- Leve trajes de banho caso as piscinas termais estejam funcionando. Você vai se perguntar: mas com esse frio todo vai rolar banho de piscina? Infelizmente a gente não deu sorte e as piscinas estavam fechadas, mas depois você conta pra gente se conseguiu entrar nas águas termais ou não.
- O pessoal da FlaviaBia Expediciones emprestou um tênis especial para nós, mais por causa do trekking, e nem tanto por causa do geyser ou da temperatura. O tênis ajudou bastante a fazer a trilha com mais segurança, mas não chega a ser imprescindível.
Madrugando para ver o Geyser del Tatio
Pouco depois das 6h, o pessoal da FlaviaBia Expediciones (a guia de montanha Carla e o guia Diego) passou para nos buscar.
Nesse mesmo dia a agência também tinha um outro passeio agendado para o Geyser, mas sem o trekking. Então fomos só eu, o Cleber e os guias.
O sol ainda não tinha nascido e nós estávamos na estrada, rumo a El Tatio.
O trajeto de 80 km é percorrido em 2h, por isso é preciso sair tão cedo. O fênomeno dos Geysers é melhor visualizado pela manhã bem cedo (entre 7h30 e 8h30), antes e somente um pouco depois do sol começar a iluminar o lugar.
A estrada foi tranquila (como estávamos num carro privativo, deu para dar uma cochiladas) e na chegada, é preciso pagar uma taxa de CLP 10.000,00 por pessoa.
Durante o trajeto, é importante tomar bastante água, que ameniza os efeitos da altitude. Outra dica que funcionou para mim foi tomar um comprimido para dor de cabeça, antes de começar o tour.
Conhecendo o campo geotérmico
Ao saírmos do carro, o frio foi mais suave que esperávamos. As mãos são as maiores vítimas, ficam bem congeladas e é preciso mesmo usar as luvas. Infelizmente, elas atrapalham um pouco para manusear o celular e câmeras, mas não tem jeito.
Foi Diego que nos acompanhou pela visita ao Geyser del Tatio, com algumas explicações e curiosidades.
Geyser del Tatio significa o avô que chora e é o campo geotermal em maior altitude do mundo, com mais de 4.300 metros. As águas subterrâneas do local entram em contato com magmas vulcânicos que a aquecem em altas temperaturas (85ºC). Em contato com a temperatura fria da superfície, a água rapidamente se evapora e se formam colunas de fumaça. Conforme o dia avança e esquenta, esse “choque térmico” diminui a intensidade.
Nós caminhamos um pouco por entre os geysers e tanto a curiosidade do fenômeno, como a beleza do cenário, fizeram a gente adorar o lugar.
Cercado por várias montanhas nevadas, em contraste com as colunas de fumaça e o frio extremo, visitar os Geysers del Tatio é daquelas experiências únicas na vida que você não pode deixar passar.
Durante a caminhada, é importante, muito importante, olhar por onde você pisa. O caminho é todo demarcado e não é possível ultrapassar, para sua própria segurança. A temperatura elevada das águas dos geysers pode até matar.
No final das contas, estava frio sim, mas nada extraordinário. Talvez, lógico, pelo fato de estarmos bem agasalhados e por não ser inverno. Eu, que estava com tanto receio de passar muito frio nesse passeio, acabei nem me abalando tanto.
Leia mais sobre o Geyser del Tatio e a piscina termal no Guia Mundo Afora
Nota: Há uma piscina termal em El Tatio, em que o banho é possível após a visita aos geysers. Mas infelizmente na época da nossa visita, a piscina estava fechada para visitantes.
Café da manhã
A visita foi rápida e logo Diego nos chamou para o café da manhã. Carla já havia preparado no nosso carro, uma linda “mesa” com alguns produtos providenciais: café quentinho, leite, chá para altitude (as folhas de coca são indicadas), pães, frios e doce de leite. Tudo delicioso e ajudou bastante a esquentar o dia.
Fica a dica: verifique se o seu passeio para o Geyser del Tatio inclui café da manhã. É perfeito depois de ter acordado tão cedo e encarado o frio extremo da região.
Parte 2: Trekking Copacoya
A primeira parte do tour havia se encerrado, e Diego nos levou de carro montanha acima, onde começamos nosso trekking.
Nós tínhamos topado o desafio do trekking com altitude, mas optamos por uma trilha mais light, que nos pouparia um esforço inicial de subida, a mais de 4.000 metros de altitude. Na véspera, a guia Carla também recomendou uma dieta a base de carboidratos (para dar mais energia) e evitar bebidas alcóolicas.
Tiramos algumas das camadas de roupa, deixamos no carro (para fazer a trilha, apenas uma camisa de manga comprida e uma fleece bastaram) e partimos.
E ainda ficava a dúvida: será que a gente daria conta de um trekking de 4 a 6 horas no Cerro Copacoya.
Vale dizer que esse trekking é muito utilizado como preparação para quem vai encarar os trekkings dos vulcões, como o Vulcão Lascar por exemplo. Por essa trilha, você consegue se preparar e ter uma noção do seu condicionamento físico.
Começa a subida
O trecho inicial é o mais difícil. Ainda estranhando a altitude, uma leve caminhada em subida já é um grande esforço. Mas a nossa guia Carla foi bem tranquila e deixou a gente fazer o nosso ritmo de caminhada.
Aliás, os trekkings oferecidos pela FlaviaBia Expediciones são com poucas pessoas, o que permite personalizar a sua experiência e poder fazer exatamente como você preferir. Durante toda a caminhada, Carla nos oferecia opções, dando informações e permitindo que a gente fizesse as nossas escolhas.
O cenário inicial do trekking já foi de tirar o fôlego. Cercado de montanhas, algumas delas com picos nevados, nossa caminhada tinha um cenário cinematográfico e surpreendente a cada momento.
Apesar da subida e da falta de ar em alguns momentos, o trekking é bem tranquilo, em terreno de areia e pedras, cercado de vegetação típica. Uma das plantas mais incríveis é llareta, belíssima. Animais vimos poucos, algumas vicunhas no início, mas elas são tímidas, rápidas e logo se esconderam.
Um curso de rio com águas congeladas e um canyon
O trecho inicial é de umas 2 horas, até descermos em um vale e no leito de um pequeno curso de água. A água corre tão fria que em alguns pontos está congelada.
Andamos nas proximidades do rio até encontrarmos um canyon, onde fizemos nossa parada para descanso.
Como caminhamos no deserto, outras diversas paradas foram necessárias para beber água e renovar a proteção solar.
A parada no cânion aconteceu bem no meio do nosso trekking. Carla nos deu um lanche de trilha (incluso no tour) e uma barra de cereais exclusiva da FlaviaBia Expediciones (deliciosa) para manter nossa energia em alta.
Valle de los Dedos
O pior ainda estava por vir, portanto essa parada para descansar e comer é importante. Todo mundo que desce, precisa subir, e nosso próximo desafio era subir o Valle de los Dedos, por entre as rochas. O nome do lugar é por causa das formações rochosas, pontiagudas e que se parecem com vários dedos.
A caminhada por entre as pedras é um pouco difícil, mas Carla sempre oferece opções, e nós poderíamos ir por um trecho mais fácil. Foi o Cleber que escolheu ir pelo mais difícil. Por quê? Boa pergunta. Brincadeira, é que ele queria andar por entre as pedras do vale.
Cheguei bem cansado no topo do Vale, e depois ainda rolou um trecho mais plano, mas ainda um pouco inclinado. Algumas paradas para descanso foram necessárias.
Trecho final do Trekking Copacoya
Após quase 4 horas de caminhada pelas montanhas, o cansaço tomou conta. Sentei numa pedra e Cleber e nossa guia Carla também aproveitaram para descansar um pouco. Nesse final, o desgaste é grande, mas também surge aquela motivação de concluir logo o percurso.
O visual também é motivador, provavelmente uma das melhores trilhas que eu já fiz. E pensar que tem gente que vem até o Geyser del Tatio e deixa essa caminhada de fora.
Nos levantamos e partimos para aquele último trecho, buscando as últimas energias para o final do trekking.
No final das contas, após cerca de 4 horas estávamos concluindo o Trekking Copacoya, opção light. Segundo nossa guia, estávamos com um bom condicionamento físico e poderíamos ter encarado o trekking completo. Será?
Carla foi sensacional, uma guia atenciosa, muito solícita e sempre atenta, mas também parte de um modelo de serviços adotado pela FlaviaBia Expediciones que trabalha apenas com grupos pequenos. Para esse trekking, o número máximo é de 4 pessoas por guia. Isso garante justamente o que aconteceu conosco: uma trilha personalizada e com uma guia 100% atenta às nossas necessidades.
No final da caminhada, como um oásis em um árido deserto, o Diego nos esperava com o carro e com algumas frutas secas. Mas foi a cerveja geladinha mesmo que ganhou meu coração.
Depois de ter feito o Trekking Copacoya e ter conhecido um pouco mais das belas montanhas que cercam o El Tatio, tivemos a certeza que a visita ao Geyser não fica completa sem essa caminhada, que permite visualizar essa região tão incrível, de diversos ângulos.
Parte 3: Povoado de Machuca
Na volta, há ainda uma parada em um povoado de cerca de 20 casas, quase uma cidade deserta.
Quer dizer, isso para nós que passamos lá depois do trekking. Estava tudo fechado. Quem vai logo após o Geyser del Tatio (o tour sem o trekking é de meio período), encontra todo o povoado vendendo churrasquinho de lhama.
Como chegamos tarde, nos restou caminhar um pouco pelo povoado e subir até a pitoresca igreja do lugar, que fica no alto de uma escadaria e permite uma visão abrangente do vilarejo.
Dicas
- É importante ir muito bem agasalhado: o frio é extremo. Nós demos sorte e pegamos só -6ºC, mas a temperatura pode chegar até -20ºC.
- Um dos itens que você não pode esquecer são as luvas e usar dois pares de meias. As extremidades costumam ser a parte do corpo que mais sofrem em baixas temperaturas.
- Como o tour envolve muita altitude, é importante beber muita água (principalmente durante a subida) e quem sabe um comprimido para dor de cabeça ou enjoo.
- Não é preciso levar comida: o tour da FlaviaBia Expediciones inclui café da manhã e lanche (somente no trekking). Mas levar água é essencial (pelo menos 1 litro de água por pessoa).
- O uso do protetor solar é essencial. Quanto maior a altitude, piores os efeitos do sol.
FICHA TÉCNICA:
Tour: Geyser del Tatio + Trekking Copacoya
Direção: Deserto do Atacama, Chile
Produção: FlaviaBia Expediciones
Preço só Geyser del Tatio: CLP 75.000,00 por pessoa, inclui café da manhã + entrada CLP 10.000,00 (não incluído, pago diretamente no local em espécie) – referência set/2017
Preço Geyser del Tatio + Trekking Copacoya: CLP 185.000,00 por pessoa, inclui café da manhã e lanche de trilha + entrada CLP 10.000,00 (não incluído, pago diretamente no local) – referência set/2017
Duração: 5h30 às 16h, a equipe busca os passageiros no hotel
Fotografia: Fabio Pastorello
O melhor: O Cerro Copacoya possui paisagens incríveis e a trilha é uma excelente preparação para quem vai encarar os vulcões
O pior: Acordar bem cedo é realmente a pior parte do passeio, mas um mal necessário para chegar no Geyser na melhor hora
Ano: 2017
País: Brasil
Avaliação: ★★★★★
Confira nosso roteiro completo dessa viagem para o Deserto do Atacama
Leia também nossa experiência de flutuar nas lagoas de sal: Lagunas Escondidas de Baltinache
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Nota: A FlaviaBia Expediciones foi nossa parceira nessa viagem ao Deserto do Atacama. Mesmo os passeios sendo uma cortesia, nossas opiniões são sinceras e só compartilhamos experiências verdadeiras.
10 Comentários
Que combinação de passeios Fabio! Adorei!
Eu já ficou todo entusiasmado para acordar cedo e fazer trilhas nas minhas férias, ainda mais em meio a paisagens tão deslumbrantes, rs!
Muito bom o post! Parabéns!
Abraço!
Poxa, que ótimo Rozemberg. Não sou muito fã de acordar cedo na minha rotina, mas viajando também não me importo. Ainda mais para fazer um passeio especial como esse. Abração.
Fabio, adorei o que você disse sobre ver “água borbulhando e alguma fumaça saindo dela” e foi por isso que não me estusiasmei a fazer o passeio. Mas para fotografar é um lugar lindo, cheio de efeitos, né? O Atacama é um lugar imperdível e fechar com a Flavia Bia é um diferencial para uma experiência inesquecível.
Realmente Marcia, é um lugar lindo que nos surpreendeu demais! Abraço grande.
Nossa que legal! Atacama tem muitas trilhas lindas né? Uma que eu fiz que foi bem dificil e faltava muito ar, é a Laguna 69, no Peru. Super indico!
Essa trilha está na minha lista de desejos há algum tempo, deve ser incrível. Abraços.
Estou encantada com esse lugar! Suas fotos então são uma inspiração. Uma mais linda que a outra! Estou planejando ir no próximo ano e suas dicas irão me ajudar muito.
Que máximo Keul. Espero que você aproveite muito, lá é o máximo.
Fábio esse post veio na hora certa. Iremos em Abril e apaixonei pelo cenário. Tá certo que é puxado, mas tentarei visitar. Bjo
Eba, que legal Alexandra. É um pouco puxado sim, mas certos sacrifícios valem pela recompensa. Aproveite muito, beijos.